Em mais um evento discutindo o mercado, a ABFLEXO/FTA-Brasil promoveu um debate técnico online com o tema Automação na Pré-impressão. O diretor de Pré-impressão da entidade, Wlademir Cassiano, conduziu uma conversa com representantes de diferentes clicherias pelo país.

Wlademir destacou: “Há algum tempo falamos da Indústria 4.0 e recentemente até da Indústria 5.0. No princípio da pandemia, os recursos digitais cresceram exponencialmente, inclusive na pré-impressão. Um ponto é o tratamento de imagem, que depende totalmente do operador, além de pre-flighting, gestão de ordem, trapping, marcas, aplicação de perfil, aprovação remota e outras são tarefas muitas vezes repetitivas e devem ser automatizadas para agilizar o fluxo de trabalho e evitar erros”.

Felipe Santana, diretor da StudioLaser, iniciou destacando o benefício da automação: “Hoje, com os softwares para o setor de pré-impressão, conseguimos automatizar e evitar qualquer tipo de erros e processos repetitivos. As soluções vieram para ficar para atender demandas do cliente por assertividade e prazo”.

Fabiano Momesso, diretor da Alpha Clicheria, relata: “Um dos grandes benefícios é a segurança no processo. Antes dependíamos da tomada de decisão do operador, e tínhamos dificuldade de ter a certeza que foi feito aquilo que foi solicitado. Hoje temos essa segurança, com a ordem de serviço com todas as informações. Este fluxo possibilitou que sejam seguidas e processadas todas as informações”.

João Francisco Silva, gerente do Grupo Fotograv, concorda: “A palavra de ordem hoje é rastreabilidade do processo, saindo da subjetividade humana e indo para um processo mais autônomo e eficiente. E também a aprovação remota, o que facilita muito a vida por termos muitos clientes”.

Franklin Oliveira, gerente da Delinear Bahia Clicheria, concorda: “A automação está em um caminho que nunca imaginávamos chegar há alguns anos. A correção antes dos problemas serem reais é muito importante. Aceleremos muito a parte de montagem, curva, prevendo e corrigindo erros. E lá no início, na parte de dados, se eles são bem alimentados, precisa ser confiável para o fluxo ocorrer de forma produtiva, sem intervenção que gere um problema futuro”.

Franklin também citou que os dados precisam estar muito bem integrados e a ferramenta de segurança funcionar bem e passar segurança, para que o cliente não acabe voltando para os antigos e-mails e telefonemas por se sentir mais seguro. 

Aceitação

Sobre a aprovação remota João diz: “Estamos atendendo grandes marcas e vem sendo bem positivo pela agilidade. Saímos apenas da aprovação do marketing e temos o pessoal de P&D também visualizando o arquivo, fazendo anotações e depois podemos fazer as correções e liberamos. Essa aprovação em cascata veio para ficar”.

Visão semelhante tem Josimar Cuchi, especialista em flexografia da Clicheria Blumenau: “Já ficou claro para o mercado, pelas várias ferramentas de aprovação remota, que ela é uma necessidade que tem que se encaixar no fluxo de aprovação. A informação tem que estar centralizada, com quem aprovou, as anotações feitas, e disponível para todos, para facilitar a execução das decisões. Mas há indústrias com alguma rejeição ainda, mas estamos trabalhando para ensinar todos a usar essas ferramentas importantes para o processo”.

Marco Nogueira, diretor da Finepack, destaca: “Realmente há uma resistência de alguns, mas já é a minoria. Um diferencial foi nossa ferramenta que moldou a aprovação para cada cliente, assim conseguimos uma maior aprovação. A ferramenta consegue se moldar para fluxo único de aprovação, fluxo duplo, etc”.

Diego Mendonça, gerente operacional da unidade de Vinhedo da PMG Flexo, vê que a automação é um caminho sem volta: “Acompanhei a dificuldade do convertedor em entender a linguagem da clicheria e também o contrário. Hoje, a automação vem para unir essas duas linguagens. Uma a que o operador está pensando e como o cliente está pensando o produto final. Muitas tarefas eram decididas pelo operador e em alguns casos não era o que o cliente queria. Isso reduziu máquina parada e perda de material também. E muitas vezes o cliente consegue acompanhar como foi desenvolvido o trabalho dele graças à automação”.

Diego completa: “O mercado é rápido, quem não se adequar vai acabar ficando para trás. O mercado do convertedor mudou e do consumidor também, a exigência está cada vez maior, do aspecto geral da embalagem e da rotulagem. Não cabe mais o ser subjetivo, tem que ser algo assertivo e definitivo, que todos falem a mesma língua”.

Felipe Santana fala do resultado de implantar sistemas de automação: “Através de um ERP e informações bem concretizadas, conseguimos montar algo que seja mais assertivo e seguro possível, desde trapping, repetição, recuo, texto, sobreposição. É possível elencar todas essas informações no workflow e fazer vários jobs sem erros. Assim, conseguimos minimizar erros e tivemos uma experiência de tecnologia de automação muito positiva”.

O executivo da StudioLaser reforça que a aceitação do operador é um desafio: “Antes as ordens eram feitas na caneta, era até difícil de entender. Quebrar este paradigma é muito difícil, essa barreira do operador com a tecnologia. Mas depois de um tempo de implementação, você percebe que era isso que você precisava e não consegue mais tirar. E a redução de gastos vai acontecendo com o tempo, como a redução de erros conseguimos pagar os softwares que investimos”.

Josimar também fala que a redução de erros é bem perceptível. “Cada trabalho é único e cada design é único, então sempre haverá alguma dificuldade. Mas sempre buscamos a redução de erros e o retorno é produtividade dos operadores, que melhora ano a ano. E qualquer automação que você aplica já há uma melhora significativa. Cada erro que vira automação a melhora é instantânea”.

Fabiano completa: “Automação não é algo estático. É algo vivo dentro da empresa, sempre temos algo para melhorar o processo e evitar erro. Quando ela entra não tem fim, ela vai sempre sendo melhorada”. Franklin também diz que muitos erros já são vistos na entrada de dados, para evitar o erro no final do processo. 

Relação com o convertedor

Josimar fala desta nova relação: “Todos conseguem acompanhar as etapas produtivas e, em automação, o que está no seu ERP é o que tem que estar em seus arquivos, garantindo a repetibilidade daquilo que foi feito. A automação precisa gerir e acessar rápido as informações, e garantir a consistência e segurança ao convertedor. O grande benefício é esse: o convertedor ter acesso à informação de forma consistente, com todas as suas especificações técnicas”.

João concorda: “Toda a cadeia produtiva que chega até o convertedor precisa de boa inserção de dados, para que na automação gere dados para cada cliente, com suas características e necessidades. Assim o convertedor tem o controle ponta a ponta do que ele vai colocar na impressora para produzir. A base de dados precisa ser muito bem orquestrada, preparando uma arquitetura de como vai funcionar perante os convertedores e agências. Isso precisa ser muito bem desenhado desde o início”.

Marco Nogueira fala de um exemplo simples, mas que todos já passaram: “Quando você tem um ERP, você imprime uma ordem de serviço. E em alguns casos mudou uma informação no processo, mas a ordem de serviço continua com a informação antiga. Com o sistema de automação isso muda, pois ele está constantemente alimentado, não tendo esse perigo de mudar e a ordem de serviço ficar com uma informação antiga”.

Franklin Oliveira cita outro ponto: “A automação chega em um ponto em que o cliente passa o serviço e pergunta: isso vai ficar bom? Mesmo com todas as variáveis, procuramos padronizar de uma forma para gerenciar cada vez mais dados como viscosidade e outros dados que vamos usar para nossa clicheria. Quando ele passar por uma dificuldade, deixar de ser só fornecedor e passa a ser consultor. Assim vamos analisar os dados e ajudar, passando segurança”.

Diego Mendonça fala de outra conquista com a automação: “Conseguimos trazer a equipe de TI fazendo um trabalho de automação junto com essas ferramentas, desenvolvendo algo dentro do ERP. É um grande avanço porque informações que poderiam se perder na automação ficam automatizadas e geridas por uma única fonte. Isso tira a questão do erro. Depois que implementamos ferramentas de automação, estamos abaixo de 0,5% em erros. E mesmo esse número é mais uma questão de gestão comercial, que você acaba absorvendo pela parceria com o cliente”. 

Tratamento de imagem

Josimar fala sobre as ferramentas que fazem a conversão de cores, com perfil de origem e destino, que convertem cores especiais para gama expandida: “Eu vejo dificuldades nesta conversão. Muitas vezes é o arquivo que recebemos da agência ou convertedor não vem da forma padronizada, não está separado da forma correta, com a cor ou Pantone correto. Muitas vezes o convertedor não sabe em qual perfil foi criada aquela embalagem. Então uma das principais dificuldades é comunicar a cor, para que todos entendam a referência, com essa comunicação convertedor, clicheria e dono de marca para chegar na referência”.

João concorda e diz como trabalham: “Há um alinhamento de expectativa entre convertedor, clicheria e dono de marca para que todos estejam na mesma página. O que fazemos é sempre como prova base uma ISO coated 39 padrão. E sempre vemos o convertedor, qual espaço de cor tem, se o gamut de cor será atingido e alinhar as expectativas, deixar todos na mesma sintonia, para que tudo flua de forma mais homogênea. Há momentos em que o espaço de cor do convertedor é mínimo, não consegue força e cobertura. E nesse momento é alinhar entre todos para deixar claro o que consegue entregar”.

Gerenciamento de cor é a grande dor de todos, diz Felipe Santana: “A parte da automação já está resolvida, agora temos que partir para esta etapa e buscar uma solução”. Franklin destaca a questão da aprovação remota: “Há casos em que o responsável aprova pelo celular e depois somos cobrados pela questão de cores. Há casos de troca de máquina e tinta e, muitas vezes, não há os recursos adequados para garantir a densidade e colorimetria de antes. O conhecimento da impressão e dos suprimentos tem que envolver toda a equipe no processo para seguir com um padrão sólido”.

João concorda: “Se você tem um controle de recebimento e instrui os convertedores sobre qual tipo de anilox e tinta utilizar, começamos a subir o nível técnico dos convertedores. Este trabalho é fundamental, e tendo equipe de base que faz este controle, isso enriquece o processo”. 

Impressão digital

E qual o impacto da impressão digital nos trabalhos? Vladimir Cassiano destaca: “As clicherias têm medo da impressão digital, mas eu não vejo desta forma, porque pré-impressão é pré-impressão, seja na placa ou na saída do arquivo digital”.

João recorda sua experiência com impressora digital, que atuava com pequenos lotes e dados variáveis. “Havia uma rapidez na pré-impressão, mas quem vai atender, por exemplo, 20 toneladas, ainda vai usar flexo ou roto, tanto pelo custo como velocidade de impressão. Talvez tenhamos equipes direcionadas para impressão digital, outra para flexo, mas sempre com a pré-impressão sendo importante”.

Josimar destaca: “No crescimento com o digital, o arquivo ainda precisará estar preparado para cada fluxo, e a pré-impressão ainda vai existir. Conforme esses equipamentos vão evoluindo, essas ferramentas de automação ficarão mais poderosas, como no caso do trapping. O arquivo de entrada tem que estar bem claro, e ainda vejo uma dificuldade em relação a isso”.

Diego concorda: “O diferencial da clicheria é que ela faz a gestão da marca dos clientes finais. A clicheria é preocupada em ver como esse trabalho é visto hoje no mercado. O papel será cada vez mais fazer a gestão dessa marca. Quem se destacar com processo interno, captura de dados, automação e gerenciamento de informação vai se destacar. Então vejo a impressão digital com bons olhos”.

E qual o panorama do profissional do mercado? Diego responde: “Quanto mais as pessoas se interessarem por pre-press, mais nosso mercado vai evoluir de forma mais rápida. Para automatizar uma tarefa, você precisa conhecê-la bem. O software precisa da intervenção humana, da pessoa pensar como outra pessoa pensaria. Se ele tem know-how, isso se torna muito mais assertivo. E faltam profissionais do mercado que querem se especializar nesta área”.

Os outros participantes também relataram que conhecimentos na área de TI (Tecnologia da Informação) ajudam muito para que um profissional ingresse na área e que, de fato, faltam profissionais especializados no setor.

Acesse o debate: https://www.youtube.com/watch?v=in0pZZMweZY&t=513s